Um ano depois da revolução, em entrevista ao jornalista Rodolfo Walsh, Hemingway teria dito: "Vamos a ganar, nosostros, los cubanos, vamos a ganar. I'm no a yankee, you know”.
Havana – A cidade de cerca de
2,4 milhões se une à região metropolitana como tantas outras capitais do mundo.
Bem perto de Havana, em São Francisco de Paula, a mais ou menos meia hora de
táxi, está a Finca Vigia, onde o escritor Ernest Hemingway viveu. Nesta casa e
no Hotel Ambos Mundos, na Habana Vieja, o escritor morou em território cubano
por 28 anos, entre idas e vindas. Ali escreveu, em pé, Por Quem os Sinos Dobram, Através do Rio, Entre as Árvores, O Velho e o Mar, Paris é uma Festa e As
Ilhas da Corrente.
O hotel Ambos Mundos foi uma residência quase permanente quando
Hemingway voltou da Guerra Civil espanhola.
HEMINGWAY chegou pela primeira vez
em Havana em abril de 1928, junto com Pauline Pfeifer, que estava grávida.
Iam em direção a Cayo Hueso. O escritor
tinha 28 anos e terminaria na praia seu segundo romance, “Adeus às Armas”, depois de ter sido correspondente na
Europa e ter dirigido ambulâncias durante a Primeira Guerra Mundial.
O “Ambos Mundos” foi uma residência quase permanente quando Hemingway
voltou da Guerra Civil espanhola. A vista do quarto que mais frequentou, no
quinto andar, era assim descrita por ele: “Suas janelas davam para a antiga
catedral, e para a entrada do porto e para o mar pelo norte, e ao sul para a
península de Casablanca e para os telhados das casas que se estendem até o
porto”. Agora, em frente à janela está um enorme edifício que fere um pouco a
paisagem de arquitetura predominantemente colonial. Neste quarto, uma exposição
que muda a cada ano marca sua estadia. A de 2014 era sobre bebida, marca
registrada na vida do escritor. A deste ano sobre quando ganhou o Prêmio Nobel
de Literatura, em 1954.
A Casa de Hemingway foi transformada em museu por iniciativa do amigo Fidel Castro.
Pauline
abandonou o quarto e o escritor ainda no Ambos
Mundos e dizem que foi Martha Gellhorn, com quem ele se casou pouco tempo
depois, quem encontrou e comprou a Finca Vigia.
É de Gabriel
García Márquez a abertura da principal biografia sobre Hemingway, escrita pelo
jornalista cubano Norberto Fuentes. “Havana era naquele tempo – e continua
sendo até hoje – uma das cidades mais belas do mundo”, descreve García Márquez
em Hemingway em Cuba. “O passeio pelo Malecón, a avenida a beira mar,
cujas obras de proteção e embelezamento tinham sido começadas em outra época,
estava sendo prolongado até sua dimensão atual, e novas avenidas com árvores e
mansões de milionários surgiam ao oeste da cidade velha”, prossegue o
colombiano, relatando exatamente o que se vê ainda hoje sendo restaurado em
Habana Vieja.
A casa da Finca Vigia permanece intacta. Até a biblioteca do
escritor, com 9 mil volumes, está ali. É possível farejar cada recanto através
das janelas e portas – só não é permitido circular na casa. Ali Hemingway teve,
além dos livros, quatro cães e 59 gatos. As peças de caça, os sapatos e
sandálias do escritor, os óculos de armação metálica, as espingardas e as varas
de pescar. A Finca está em um dos lugares mais altos da região e a vista desde
lá sobre Havana é magnífica. Atrás da casa, o escritor mantinha um mirante que
também é aberto à visitação.
Em Cuba, Hemingway foi fiel freqüentador do Floridita, um bar com
restaurante nos fundos que existe no final da Rua Obispo. Ali turistas de todo
o mundo ainda hoje se sentam para tomar o daiquiri, uma combinação de rum
cubano com gelo picado e limão que o escritor ajudou a divulgar pelo mundo.
Segundo Hemingway conta em artigo escrito logo após receber o Prêmio Nobel, ir
ao Floridita significava sentir-se em casa. “Eram pessoas de todos os Estados
Unidos e de muitos lugares onde morei.” De marinheiros a agentes do FBI, entre alguns
cubanos, todos frequentavam o Floridita. Dizem que o escritor também
frequentava a Bodeguita Del Médio, intacto até hoje e onde se podem ver as
assinaturas de milhares de visitantes que cobrem as paredes, ali estão o
autógrafo de Salvador Allende e um poema de Nicolás Guillén.
Pelas ruas de Havana, nenhum escritor – a não ser é claro José
Martí – parece ser alvo de tantas homenagens. Difícil encontrar um bar ou
restaurante de Havana que não tenha uma foto de Hemingway pendurada na parede.
Fidel Castro foi quem, junto à última esposa de Hemingway, se comprometeu em
manter a Finca Vigia intacta e transformá-la em museu. Em 1977, Fidel teria
declarado a um grupo de jornalistas estadunidenses que Hemingway era seu autor
preferido.
Sobre o escritor, o que os cubanos dizem é que
seu pensamento político, tão expresso durante a Guerra Civil espanhola, parecia
um enigma frente ao drama que vivia Cuba antes da Revolução. Suas relações eram
com estadunidenses que visitavam a ilha e com alguns cubanos, mas não há
indícios de que tenha tentado fazer contato com o ambiente cultural local – e
tampouco conheceu muito mais da América Latina.
Segurando a espingarda com que se matou com um disparo no céu da boca.