quarta-feira, 4 de março de 2015

CUBA - Onde Hemingway deixou clássicos e sua história


Um ano depois da revolução, em entrevista ao jornalista Rodolfo Walsh, Hemingway teria dito: "Vamos a ganar, nosostros, los cubanos, vamos a ganar. I'm no a yankee, you know”.


Havana – A cidade de cerca de 2,4 milhões se une à região metropolitana como tantas outras capitais do mundo. Bem perto de Havana, em São Francisco de Paula, a mais ou menos meia hora de táxi, está a Finca Vigia, onde o escritor Ernest Hemingway viveu. Nesta casa e no Hotel Ambos Mundos, na Habana Vieja, o escritor morou em território cubano por 28 anos, entre idas e vindas. Ali escreveu, em pé, Por Quem os Sinos Dobram, Através do Rio, Entre as Árvores, O Velho e o Mar, Paris é uma Festa e As Ilhas da Corrente.

O hotel Ambos Mundos foi uma residência quase permanente quando Hemingway voltou da Guerra Civil espanhola. 

HEMINGWAY chegou pela primeira vez em Havana em abril de 1928, junto com Pauline Pfeifer, que estava grávida.
Iam em direção a Cayo Hueso. O escritor tinha 28 anos e terminaria na praia seu segundo romance, “Adeus às Armas”, depois de ter sido correspondente na Europa e ter dirigido ambulâncias durante a Primeira Guerra Mundial.
O “Ambos Mundos” foi uma residência quase permanente quando Hemingway voltou da Guerra Civil espanhola. A vista do quarto que mais frequentou, no quinto andar, era assim descrita por ele: “Suas janelas davam para a antiga catedral, e para a entrada do porto e para o mar pelo norte, e ao sul para a península de Casablanca e para os telhados das casas que se estendem até o porto”. Agora, em frente à janela está um enorme edifício que fere um pouco a paisagem de arquitetura predominantemente colonial. Neste quarto, uma exposição que muda a cada ano marca sua estadia. A de 2014 era sobre bebida, marca registrada na vida do escritor. A deste ano sobre quando ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, em 1954.
A Casa de Hemingway foi transformada em museu por iniciativa do amigo  Fidel Castro.
Pauline abandonou o quarto e o escritor ainda no Ambos Mundos e dizem que foi Martha Gellhorn, com quem ele se casou pouco tempo depois, quem encontrou e comprou a Finca Vigia.
É de Gabriel García Márquez a abertura da principal biografia sobre Hemingway, escrita pelo jornalista cubano Norberto Fuentes. “Havana era naquele tempo – e continua sendo até hoje – uma das cidades mais belas do mundo”, descreve García Márquez em Hemingway em Cuba. “O passeio pelo Malecón, a avenida a beira mar, cujas obras de proteção e embelezamento tinham sido começadas em outra época, estava sendo prolongado até sua dimensão atual, e novas avenidas com árvores e mansões de milionários surgiam ao oeste da cidade velha”, prossegue o colombiano, relatando exatamente o que se vê ainda hoje sendo restaurado em Habana Vieja.


A casa da Finca Vigia permanece intacta. Até a biblioteca do escritor, com 9 mil volumes, está ali. É possível farejar cada recanto através das janelas e portas – só não é permitido circular na casa. Ali Hemingway teve, além dos livros, quatro cães e 59 gatos. As peças de caça, os sapatos e sandálias do escritor, os óculos de armação metálica, as espingardas e as varas de pescar. A Finca está em um dos lugares mais altos da região e a vista desde lá sobre Havana é magnífica. Atrás da casa, o escritor mantinha um mirante que também é aberto à visitação.
Em Cuba, Hemingway foi fiel freqüentador do Floridita, um bar com restaurante nos fundos que existe no final da Rua Obispo. Ali turistas de todo o mundo ainda hoje se sentam para tomar o daiquiri, uma combinação de rum cubano com gelo picado e limão que o escritor ajudou a divulgar pelo mundo. Segundo Hemingway conta em artigo escrito logo após receber o Prêmio Nobel, ir ao Floridita significava sentir-se em casa. “Eram pessoas de todos os Estados Unidos e de muitos lugares onde morei.” De marinheiros a agentes do FBI, entre alguns cubanos, todos frequentavam o Floridita. Dizem que o escritor também frequentava a Bodeguita Del Médio, intacto até hoje e onde se podem ver as assinaturas de milhares de visitantes que cobrem as paredes, ali estão o autógrafo de Salvador Allende e um poema de Nicolás Guillén.
Pelas ruas de Havana, nenhum escritor – a não ser é claro José Martí – parece ser alvo de tantas homenagens. Difícil encontrar um bar ou restaurante de Havana que não tenha uma foto de Hemingway pendurada na parede. Fidel Castro foi quem, junto à última esposa de Hemingway, se comprometeu em manter a Finca Vigia intacta e transformá-la em museu. Em 1977, Fidel teria declarado a um grupo de jornalistas estadunidenses que Hemingway era seu autor preferido.

Sobre o escritor, o que os cubanos dizem é que seu pensamento político, tão expresso durante a Guerra Civil espanhola, parecia um enigma frente ao drama que vivia Cuba antes da Revolução. Suas relações eram com estadunidenses que visitavam a ilha e com alguns cubanos, mas não há indícios de que tenha tentado fazer contato com o ambiente cultural local – e tampouco conheceu muito mais da América Latina.
Segurando a espingarda com que se matou com um disparo no céu da boca.




Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...