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Ricardo Kotscho é jornalista
O
que houve? Ou melhor, por que não houve?
Apareceram apenas 150 "protestantes" na Cinelândia,
Rio de Janeiro, na manifestação anticorrupção organizada por cinco entidades em
redes sociais.
Em São Paulo, na avenida Paulista, outros cinco movimentos (Nas
Ruas, Mudança Já, Pátria Minha, Marcha Pela Ética e Lojas Maçônicas) juntaram
apenas 200 pessoas. Na Boca Maldita, em Curitiba, o grupo Anonymous reuniu 80
pessoas.
A maior concentração de manifestantes contra a corrupção foi
registrada na praça da Liberdade, em Belo Horizonte, calculada em 1.500
pessoas, segundo a Polícia Militar. E, a menor, ocorreu em Brasília, onde 30
gatos pingados se reuniram na Esplanada dos Ministérios.
Será que a corrupção é maior em Minas do que em Brasília?
Juntando tudo, não daria para encher a Praça da Matriz da minha querida
Porangaba, cidade pequena porém decente.
Desta vez, nem houve divergências sobre o número de
manifestantes. Eram tão poucos no feriadão de 15 de novembro que dava para
contar as cabeças sem ser nenhum gênio em matemática.
Até os blogueiros mais raivosos que, na véspera, anunciaram
"protestos em 37 cidades de todo o país", com horário e local das
manifestações, parecem ter abandonado o barco. Não se tocou mais no assunto.
Parece que a sortida fauna que organiza protestos "contra
tudo o que está aí" desde o feriadão de 7 de setembro já se cansou.
Os organizadores colocaram a culpa na chuva, mas não conseguem
explicar como, no mesmo dia, sob a mesma chuva, 400 mil pessoas foram às
compras na rua 25 de Março e 40 mil fiéis se reuniram a céu aberto no Estádio
do Pacaembu, em São Paulo, numa celebração evangélica.
Nem se pode alegar falta de assunto, já que a velha mídia não se
cansa de dar manchetes todos os dias sobre os "malfeitos" do governo,
com destaque no momento para o Ministério do Trabalho do impoluto Carlos Lupi.
Na minha modesta opinião, o fracasso destas manifestações
inspiradas na Primavera Árabe e nos protestos contra o capitalismo selvagem nas
capitais européias e nos Estados Unidos, reside na falta de objetivos e de
sinceridade dos diferentes movimentos que se apresentam como
"apartidários" e "apolíticos", como se isto fosse possível.
Pelo jeito, o povo brasileiro está feliz com o país em que vive -
e, por isso, só vai às ruas por um bom motivo, não a convite dos antigos
"formadores de opinião".
Afinal, todos somos contra a corrupção _ até os corruptos, para
combater a concorrência, certamente _, mas esta turma é mesmo contra o governo.
Basta ver quem são seus arautos na imprensa, que hoje abriga o que sobrou da
oposição depois das últimas eleições presidenciais.
Dilma pode demitir todos os ministros e fazer uma faxina geral
na máquina do governo que eles ainda vão querer mais, e continuarão
"convocando o povo" nas redes sociais. Valentes de internet, não
estão habituados a enfrentar o sol e a chuva da vida real.
Ao contrário do que acontece em outros países, estes eventos no
Brasil são mais um fenômeno de mídia do que de massas _ a mesma grande mídia
que apoiou o golpe de 1964 e escondeu até onde pode a Campanha das Diretas Já,
em 1984 (com a honrosa exceção da "Folha de S. Paulo", onde eu
trabalhava na época).
Eles não enganam mais ninguém. O povo não é bobo faz tempo.