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"Com o
tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um
público tão vil como ela mesma." Joseph Pulitzer (1847-1911)
Eu sou um jornalista judeu que escreve para um jornal judaico. Como resistir a um assunto como a biografia de um jornalista judeu? Joseph Pulitzer foi um dos grandes (basta ver que o maior prêmio americano de jornalismo leva o seu nome). Ele foi um homem do jornal diário, das rotativas. E esta nova biografia escrita por James McGrath Morris ("Pulitzer") é pertinente, pois, infelizmente, estamos testemunhando a morte de um estilo de publicação jornalística que teve Pulitzer como inventor: o grande jornal diário e urbano, que todo mundo lia, do político à dona-de-casa.
Com o "New York World", Pulitzer revolucionou o
jornalismo com sua mistura de reportagens investigativas, editoriais candentes,
crimes sensacionais, histórias de interesse humano e um visual mais atraente.
Ele não apenas registrava a história, mas a fazia. Ao lado do seu grande rival,
William Randolph Hearst (o Cidadão Kane, do filme de Orson Welles), Pulitzer
liderou a carga da imprensa para os EUA entrarem na guerra contra a Espanha em
1898.
Pulitzer tinha a ambição, o destemor e o sonho de fazer a América
de legiões de imigrantes. Nascido em 1847, era um judeu húngaro que chegou aos
EUA aos 17 anos, sem um tostão ou uma palavra de inglês. Sua primeira língua
era o alemão e foi junto à comunidade de imigrantes alemães na cidade de St.
Louis, no meio-oeste americano, que Pulitzer impulsionou sua carreira política
e jornalística.
Ele não nascera pobre, mas fora reduzido à miséria com a morte do pai
quando tinha 11 anos. Antes, como tantos judeus de classe média no Império
Austro-Húngaro, os Pulitzers abraçaram com entusiasmo o judaísmo reformista,
assimilacionista. Na biografia, Morris escreve que, quando Joseph Pulitzer
atingiu a adolescência, "ser judeu permanecia parte de sua vida, mas não
mais o centro dela".
Com sua ascensão social, o judaísmo simplesmente foi marginalizado, até
escondido. De St. Louis, Pulitzer queria saltar para Nova York, capital dos
negócios e da imprensa. O casamento foi com Kate Davis, em uma igreja
episcopal. Pulitzer até encorajou o rumor de que sua mãe nem era judia.
Sua origem judaica, no entanto, era conhecida e, portanto, devidamente
usada por inimigos e antissemitas. Ele era chamado de "Jewseph
Pulitzer", e ênfase era dada à sua "protuberância nasal". Ao
morrer em 1911, o sonho americano se convertera em pesadelo. A vida pessoal era
infeliz. Pulitzer se notabilizara por ser uma pessoa tirânica e a menina dos
seus olhos, o "World", faliu em 1931, mais uma vítima da Grande
Depressão. O rival Hearst é lembrado pelo Cidadão Kane, e Pulitzer, pelo prêmio
cívico de jornalismo com o seu nome.
Conheça: Pulitzer Prize
Caricatura - João de Deus NETTO